A criatividade do atendimento infanto-juvenil
- Rafaela Silva - Psicóloga
- 25 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
O atendimento infanto-juvenil é mais do que uma brincadeira; ao contrário, é um processo complexo que requer muito do profissional.
Confira na matéria abaixo.
Vivemos em pleno século XXI, sob o contexto da neurodiversidade, da plasticidade cerebral e do transhumanismo. Ao longo do tempo, o conceito de infância foi se modificando e adquirindo um olhar diferenciado e específico sobre o funcionamento e desenvolvimento humano. Na época vitoriana, por exemplo, a criança era vista como um pequeno ou mini adulto, aprendia a ter comportamentos funcionais e era regrada sob a égide de castigos, bem diferente dos contextos atuais.
Como o saudoso filósofo Baumam já nos dizia, estamos vivendo numa sociedade líquida, onde as mudanças tecnológicas acontecem de forma muito rápida e com muita fluidez, impactando assim no desenvolvimento humano. Atualmente, a psicologia trata da infância através de amplos estudos científicos que são demonstrados também através da prática clínica. A criança deste século é aquela que nasceu sob a influência direta da tecnologia digital e novas aquisições sensoriais, motoras e psíquicas farão parte do seu desenvolvimento.

Embora esta fase seja áurea, há também contrapontos importantes. Nem todas as crianças tem acesso ao letramento, ao processo de alfabetização e ao uso da internet. Ainda existe muita desigualdade social e muitas crianças se encontram em vulnerabilidade, o que compromete seu futuro adolescente. A infância que é abandonada afetivamente resulta em possíveis problemas de socialização e adaptação social. Como defesa, alguns adolescentes se deslocam ao mundo do ciberespaço para compor parte de suas angústias. Os que não tem esta disponibilidade se refugiam muitas vezes nas ruas e muitas vezes passam a delinquir.
Por isso é tão importante o olhar humano sob o desenvolvimento infanto juvenil e o processo de psicoterapia é o aporte de acolhimento para facilitar este percurso, permitindo a expressão das emoções e sentimentos e fornecendo estratégias que promovem a saúde mental tanto da criança quanto de sua unidade familiar. Perceber a criança, o adolescente para além do setting clínico, traçar observações paralelas, seja na escola, na família ou na célula social faz parte da função de um psicólogo clínico infantil. O psicólogo infanto juvenil precisa estar atento e compreender que o processo de psicoterapia não se limita a apenas uma sala ou espaço físico, podendo ser transpassado ou estendido para outros acessos como visitas domiciliares, atendimento home care, visitas à hospitais, escolas, atendimentos terapêuticos em parques, etc.
Todo processo interventivo deve considerar a dinâmica e a conduta familiar. É importante salientar que para um bom andamento psicoterápico é necessário criar um vínculo terapêutico saudável que é estabelecido por um processo de confiança através das sessões lúdicas. O mundo da criança é o mundo do “fantasiar”, a criança que consegue elaborar sua fantasia, modifica sua própria realidade. É nesta fantasia que o psicólogo adentra, com muito carinho e atenção, sempre pedindo licença, estabelecendo e respeitando limites, criando um espaço de suporte emocional. Já o mundo do adolescente é concreto, traçado pelos lutos da infância, pelo processo de estabelecer uma identidade bem como de se colocar no mundo. E neste sentido, se necessário for, o psicólogo que está disposto a enfrentar desafios na clínica juvenil se moverá para fora de seu setting, ampliando seu território e explorando novas possibilidades desta clínica.

Ligia Busnello é Psicóloga em Sorocaba/SP, atua nas abordagens psicodinâmica e sistêmica. Pós-graduanda em Psicologia Clínica e Psicoterapia Infantil.
Realiza atendimentos presencial, online e home care.
Instagram: @ligiabusnello.psi
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